O Papa Francisco morreu aos 88 anos. Chegou a hora de escolher o sucessor de São Pedro e perceber como funciona o conclave.
Papa Francisco
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Com a morte do Papa Francisco, o mundo volta os olhos ao Vaticano: vai começar o conclave. Mas afinal, como se escolhe um novo Papa? É um dos momentos mais enigmáticos da Igreja Católica e do próprio ocidente. 

Mas o que acontece realmente por detrás das portas fechadas de um conclave? Quem pode participar? Como decorrem as votações? E o que significam todos os rituais associados? Quando é que veremos o fumo branco na chaminé da Capela Sistina?

Funeral do Papa Francisco (1936-2025): o Papa que mudou o mundo

Papa Francisco
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O Papa Francisco deixou-nos aos 88 anos, após um pontificado marcado pela simplicidade, compaixão e aproximação aos mais desfavorecidos. Fiel aos seus valores, preparou um funeral diferente do tradicional. 

De facto, o seu corpo será velado diretamente na Basílica de São Pedro, onde repousará num caixão simples de madeira com revestimento em zinco, colocado no chão da Basílica e não num esquife elevado. Ao contrário dos seus antecessores, não passará pelo Palácio Apostólico nem será sepultado na cripta da Basílica de São Pedro.

Cumprindo a sua vontade, o Papa Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, numa homenagem à sua profunda devoção à Virgem Maria. Após as exéquias, terá início o tradicional período de luto da Igreja Católica — o Novendiales —, com nove dias consecutivos de missas e orações pela sua alma. 

O mundo despede-se de um Papa que marcou a história - "de todos, todos, todos!" - pela humildade, pelo sorriso e pelo desejo constante de reforma e misericórdia.

O que é o conclave e como começou?

Conclave no Vaticano
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O conclave é o processo de eleição do novo Papa, realizado exclusivamente por cardeais eleitores reunidos à porta fechada na Capela Sistina. O termo vem do latim cum clave ("com chave"), referindo-se ao isolamento total durante a votação. Esta tradição remonta ao século XIII, criada para evitar longos períodos sem liderança na Igreja Católica.

Quem pode votar no conclave?

Como se escolhe o novo Papa
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Apenas os cardeais com menos de 80 anos à data da morte do Papa têm direito de voto. São conhecidos como “cardeais eleitores” e têm a responsabilidade de eleger o novo Sumo Pontífice durante o conclave

Atualmente, existem 138 cardeais eleitores de um total de 252, dos quais 138 são eleitores e 114 não têm direito de voto por já terem ultrapassado essa idade. No entanto, o conclave não se inicia de imediato. 

Segundo a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, publicada por João Paulo II em 1996, o conclave só pode começar após um período mínimo de quinze dias completos após a morte do Papa. Este intervalo serve para permitir a chegada de todos os cardeais a Roma e preparar devidamente o início do processo de eleição do novo Sumo Pontífice.

Como funciona o conclave: o que acontece dentro da Capela Sistina?

O conclave decorre na Capela Sistina, um dos espaços mais sagrados do Vaticano. Após a Missa Pro Eligendo Papa, os cardeais fazem um juramento de sigilo absoluto e entram em isolamento total: sem telemóveis, sem contacto externo, e com vigilância rigorosa. Durante dias, só se fala, reza e vota, até surgir o novo Papa.

A  clausura tem como objetivo garantir a liberdade de pensamento e a serenidade necessárias para que cada cardeal possa votar segundo a sua consciência, sem influências externas.

Como é feita a votação para eleger o Papa?

Eleição do novo Papa
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Durante o conclave, o voto dos cardeais é feito de forma secreta e cuidadosamente ritualizada. Cada cardeal escreve, em segredo, o nome do seu candidato num boletim com a frase latina Eligo in Summum Pontificem (“Escolho como Sumo Pontífice”). 

Eleição do novo Papa: a contagem dos votos

A contagem dos votos para eleger um novo Papa decorre de uma maneira muito complexa, a fim de garantir a máxima transparência do escrutínio. Eis os principais passos:

  1. Primeiro são sorteados três escrutinadores, que ficam encarregues de recolher e contar os votos;
  2. São depois escolhidos três revisores, que confirmam a contagem feita pelos escrutinadores;
  3. Em última lugar, selecionam-se também três cardeais auxiliares, que recolhem os votos dos cardeais doentes, impossibilitados de ir até à urna.

Depois de todos os votos serem depositados, um dos escrutinadores agita a urna, enquanto outro conta os boletins para garantir que o número coincide com o total de votantes. 

Se tudo estiver em ordem, os escrutinadores sentam-se junto ao altar e iniciam a contagem:

  • O primeiro abre cada ficha e verifica o nome escrito;
  • O segundo confirma o nome e entrega ao terceiro;
  • O terceiro lê em voz alta o nome e todos os cardeais registam-no numa folha apropriada.

Os votos são depositados individualmente no altar da Capela Sistina numa urna e contados rigorosamente por três escrutinadores. Se ninguém alcançar dois terços dos votos, os boletins são queimados e o processo recomeça.

Quanto tempo pode durar um conclave?

Vaticano
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O conclave pode durar horas ou vários dias. Tudo depende da rapidez com que os cardeais atingem um consenso. Em média, a eleição dura 2 a 5 dias, mas há registos históricos de conclaves que duraram meses. 

Se após vários escrutínios não houver vencedor, os dois cardeais mais votados tornam-se os únicos elegíveis. Se tal não acontecer logo nas primeiras votações, o processo continua, seguindo regras muito específicas:

  • Durante os três primeiros dias, realizam-se até quatro votações por dia (duas de manhã e duas à tarde);
  • Se ao fim desses três dias não houver eleição, os trabalhos são suspensos por um dia para oração e reflexão;
  • O ciclo repete-se: após cada bloco de sete votações sem sucesso, faz-se nova pausa para oração e meditação, antes de retomar o processo.

Se, mesmo após múltiplas votações, não se alcançar os dois terços exigidos, entra-se numa fase decisiva: os dois cardeais mais votados no último escrutínio tornam-se os únicos elegíveis, e continua a ser necessário alcançar a maioria qualificada. 

Quando veremos o fumo branco no Vaticano?

Só depois de eleito é que o novo Papa é anunciado ao mundo — indicado pelo o famoso fumo branco que sai da chaminé da Capela Sistina. 

Este sinal visual é feito através da queima de boletins misturados com substâncias químicas (clorato de potássio, lactose e resina). Se sair fumo negro significa que ainda não houve consenso.

Quem são os favoritos para suceder o Papa Francisco?

Morte do Papa Francisco
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Com a morte do Papa Francisco começam a ser apontados os primeiros nomes para substitui-lo. Abaixo encontrarás alguns nomes dos cardeais que são apontados como favoritos:

  1. José Tolentino de Mendonça (Portugal): poeta e teólogo progressista nascido na Madeira, muitos acreditam que poderá vir a ser o próximo chefe da Igreja Católica. No ano passado presidiu à Peregrinação de Nossa Senhora de Fátima em Wiltz;
  2. Pietro Parolin (Itália): secretário de Estado do Vaticano. Diplomata experiente e influente no Vaticano;
  3. Matteo Zuppi (Itália): arcebispo de Bolonha. Progressista, próximo de Francisco e ativo em causas sociais e diálogo;
  4. Pierbattista Pizzaballa (Itália): patriarca Latino de Jerusalém. Defensor do diálogo inter-religioso e da causa palestina;
  5. Jean-Marc Aveline (França): arcebispo de Marselha. Foco em imigração e diálogo entre religiões;
  6. Péter Erdo (Hungria): arcebispo de Esztergom-Budapeste. Conservador, atua na nova evangelização e no diálogo com ortodoxos;
  7. Mario Grech (Malta): secretário-geral do Sínodo dos Bispos. Conhecido pela escuta e justiça social;
  8. Luis Antonio Tagle (Filipinas): cardeal de Manila. Defensor da justiça social e diálogo inter-religioso;
  9. Robert Francis Prevost (EUA): prefeito do Dicastério para os Bispos. Nomeado cardeal por Francisco em 2023;
  10. Wilton Gregory (EUA): arcebispo de Washington. Primeiro cardeal afro-americano, atua pela justiça social;
  11. Blase Cupich (EUA): arcebispo de Chicago. Progressista, foca em inclusão e apoio aos marginalizados.
  12. Fridolin Ambongo Besungu (República Democrática do Congo): arcebispo de Kinshasa. Ativo pela paz e justiça social no Congo;
  13. Leonardo Ulrich Steiner (Brasil): primeiro cardeal da Amazónia. Defende a valorização da região amazónica.
  14. Sérgio da Rocha (Brasil): arcebispo de Salvador. Teólogo moral com forte atuação pastoral no Brasil.

A Igreja Católica prepara-se para um novo capítulo. O conclave é mais do que uma escolha — é uma tradição milenar que molda o futuro espiritual de milhões. Resta agora esperar pelo fumo branco e pelo tão aguardado anúncio: Habemus Papam!