Casas por 1 euro em Cammarata: o projeto da aldeia siciliana para o seu centro histórico

O projeto de casa por 1 euro em Cammarata, Sicília, é quase único em Itália entre as muitas iniciativas de casa por 1 euro em Itália em 2021. Em Cammarata, o município está a colaborar com uma associação de jovens profissionais que se comprometeram a salvaguardar o centro histórico da sua cidade natal, fator que destaca o projeto de casa por 1 euro da aldeia. Para saber mais sobre esta iniciativa de renovação do centro histórico de Cammarata, o idealista / news conversou com os envolvidos. 

O Município de Cammarata juntou-se ao projeto de casas por 1 euro com a aprovação do regulamento de requalificação e reaproveitamento de imóveis abandonados no centro histórico através da transferência gratuita a terceiros para alojamento turístico, comercial ou habitacional.

Giuseppe Coniglio

O interesse por estas casas por 1 euro em Cammarata, como explicou Enzo Ligregni, chefe da área técnica de regeneração urbana do município, disparou após uma reportagem da CNN que deu cobertura internacional à iniciativa: “Depois daquela entrevista chegaram pedidos de todo o mundo e muitas pessoas vieram ver a aldeia. O bloqueio do coronavírus atrasou um pouco as operações, que agora já se estão a reiniciar".

Como também assinala Ligregni, a iniciativa foi criada para salvaguardar o património histórico do centro histórico de Cammarata: "A nossa aldeia é antiga, os primeiros povoados datam de antes do ano 1000, está totalmente voltada para o leste e quando o céu é claro conseguimos acordar e ver o Monte Etna das nossas janelas, embora esteja a 200km de distância".

Paolo Severino

Para melhor desenvolver o projeto de venda de casas por 1 euro em Cammarata, o município assinou um acordo com a associação "StreetTo" com o objectivo de promover a iniciativa. Esta é uma associação de jovens locais, que conta com arquitetos, designers, contabilistas, advogados e fotógrafos, alguns dos quais já se mudaram para o estrangeiro, mas que trabalham juntos para colocar o seu saber ao serviço de uma causa comum: salvar o centro histórico da Cammarata do esquecimento.

Uma das lideres do projeto, Martina Giracello, falou-nos desta parceria: “Com a nossa atividade queremos ser uma montra para levar a oferta de casas à venda no centro histórico de Cammarata ao maior número de pessoas possível e, com isto, não me refiro apenas às casas por 1 euro".

Giuseppe Coniglio

“Percebemos no ano passado”, explica a arquiteta Martina Giracello, “que quando levamos as pessoas para lhes mostrar as casas à venda por 1 euro, muitas delas nos perguntam se há outras casas em melhores condições, mesmo com um preço mais alto, mas ainda assim acessível. Isto levou então à ideia da StreetTo procurar outros proprietários interessados em vender, mesmo que não seja pelo valor simbólico de 1 euro. O importante é que o imóvel esteja no centro histórico da vila e tenha necessidade de obras de restauro, como a própria Giracello assinala: “A nossa missão é salvar o centro da degradação e do perigo de os edifícios abandonados se despedaçarem”.

Para além das casas por 1 euro em Cammarata, os restantes imóveis à venda na zona da associação variam entre os 5.000 e os 25.000 euros, consoante o seu estado de conservação e as obras de reabilitação necessárias. "99% dos compradores são estrangeiros, dos quais 80% são pessoas que querem mudar de vida, enquanto os 20% restantes são pessoas que moram na América do Sul e querem voltar aos lugares que as suas famílias deixaram há muitos anos".

Domenico Russotto

Todas as propostas são avaliadas, seja para uso residencial ou comercial. Martina Giracello assinala ainda que, muitas vezes "andam de mãos dadas, talvez incluindo uma parte para servir de habitação e o resto para alojamento, restauração ou atividades artesanais". O site StreetTo está atualmente disponível apenas em inglês, mas os seus administradores já estão a trabalhar nas versões em italiano e espanhol.

Outra característica da oferta de casas por 1 euro em Cammarata é que os jovens profissionais da StreetTo auxiliam os compradores em todo o processo, desde o contacto inicial às obras de renovação, passando pela parte burocrática. “No nosso grupo”, explica Martina Giracello, “estão advogados, designers, linguistas, fotógrafos e contabilistas. Estamos inclusive empenhados em responder a questões que não deviam ser da nossa responsabilidade, por exemplo questões sobre autorizações e vistos, até à ajuda concreta para quem quer abrir negócio na aldeia ”.